Ciclos Migratórios
“...Passa certo dia, à sua porta, a primeira turma de “retirantes”. Vê-a, assombrado, atravessar o terreiro, miseranda, desaparecendo adiante, numa nuvem de poeira, na curva do caminho... No outro dia, outra. E outras. É o sertão que se esvazia.
Não resiste mais, amatula-se num daqueles bandos, que lá se vão caminho em fora, debruando de ossadas as veredas, e lá se vai ele no êxodo penosíssimo para a costa, para as serras distantes, para quaisquer lugares onde o não mate o elemento primordial da vida. Atinge-os. Salva-se.
Passam-se meses. Acaba-se o flagelo. Ei-lo de volta. Vence-o a saudade do sertão. Remigra. E torna feliz, revigorado, cantando; esquecido de infortúnios, buscando as mesmas horas passageiras da ventura perdidiça e instável, os mesmos dias longos de transes e provocações demoradas...” ( Os Sertões, pág 107)
Nestes parágrafos, o escritor Euclides da Cunha, autor do livro Os Sertões, traduz com clareza o ato migratório da população sertaneja provocado pela seca. O deslocamento de uma população pode ocorrer por vários motivos, entre eles estão as causas naturais, como por exemplo as secas, inundações, desertificações, como as que acontecem nos sertões. Crises financeiras e pós guerras também causam migração. As mortes e os nascimentos não são os únicos fatores que causam mudanças na população de um país, a entrada e a saída de seus habitantes no território, em movimentos migratórios, também são responsáveis por estas mudanças. Euclides da Cunha enviado a Canudos como correspondente de guerra em 1897, escreveu reportagens para o jornal Estado de São Paulo e o livro Os Sertões, no qual relata a tomada de Canudos. Tanto no livro Os Sertões quanto em seus ensaios amazônicos, o autor aborda o sertanejo como alguém expatriado em sua própria terra. Alguém que migra para outras paragens fugindo da calamidade da seca. Pode-se observar nesta obra dois tipos de migração, uma imposta por razões politicas e outra imposta pela aridez do lugar.
As Vinhas da Ira ( The Grapes of Wrath), foi um livro publicado pelo escritor norte – americano John Steinbeck, no ano de 1939, que também relata a história de uma família pobre do estado de Oklahoma, que durante a grande depressão de 1929 vê-se obrigada a abandonar suas terras, perdidas por dívidas bancárias, e rumar em direção à California em busca de novas oportunidades. Ambas as obras citadas discutem e demonstram situações migratórias.
Durante o período da Primeira Guerra Mundial, os norte – americanos tinham uma boa economia, suas indústrias exportavam muito, principalmente para o mercado europeu. A situação econômica começou a mudar em 1920, após a reconstruição as nações européias diminuiram as importações, a indústria americana não conseguia mais vender seus estoques. Os americanos ( uma grande quantidade deles) tinham investido em ações da bolsa, percebendo a desvalorização dessas ações houve uma correria para tentar vendê-las, o que transformou-se em uma grande catástrofe pois o valor das ações despencaram. Milionários se tornaram pobres da noite para o dia, o número de falências foi assustador, quase 30% dos trabalhadores ficaram desempregados. A crise também conhecida como “A Grande Depressão” atingiu devastadoramente os Estados Unidos e todos os países que mantinham relações comerciais com os americanos.
O livro de John Steinbeck descreve o desespero das famílias que se viam obrigadas a abandonar seus lares, atiravam-se nas estradas sem ter o que comer a procura de trabalho e um lugar melhor para viver. O país das oportunidades já não oferecia oportunidade nenhuma e o crescimento econômico do inicio da década de 20, permeado pelo aumento do consumismo, chocou-se com a miséria repentina imposta pela crise econõmica.
As migrações quase sempre estão associadas a fatores econômicos. No Brasil, a inconstância da economia sempre foi a responsável pelas migrações. No Nordeste tivemos o ciclo da cana-de-açúcar, logo em seguida veio o ciclo do ouro nas Minas Gerais o que provocou uma grande migração para esses territórios. Com o ciclo do café e a industrialização, a região Sudeste tornou-se o polo central dessa migração, migrantes vinham de seus estados de origem em busca de trabalho e melhores salários. É importante lembrar que o nordestino não migra de sua região levado somente pela seca, mas também pela falta de emprego e infraestrutura, a concentração de terras e o baixo padrão de vida contribuem para isto e a seca também contribui como um agravante climático dependendo da região No ambiente rural, a pobreza e a miséria acentuadas pela falta de estrutura (Educação e Saúde), mais a exploração feita pelos latifundiários são elementos que contribuem para a grande migração de pessoas do campo para a cidade. O fascínio pelo ambiente urbano atrai famílias cada vez mais, gente que alimenta a esperança de conseguir melhorar de vida nas cidades, o que na verdade não passa de ilusão, pois as cidades não comportam tantos habitantes. Graças a essa migração desordenada, falta mão de obra no campo e amontoam-se pessoas em favelas e areas de proteção ambiental.
Os tipos de migração mais comuns são:
● Transumância – Movimento temporário, ou seja, passada a causa da saída do migrante ele retorna para sua região de origem.
● Migrações Pendulares Diárias – Caracteriza-se pelo movimento de ida e vinda de casa para o trabalho, comum nos grandes centros urbanos.
● Migrações Inter – Regionais – É o deslocamento de uma região brasileira para outra em busca de melhor campo de trabalho.
● Migrações Intra – Regionais – É o deslocamento entre estados de uma mesma região.
Dalva.
Comentários
ao texto.
Muito me auxiliou nos meus estudos para concurso.
Obrigada.
Ana Maria Rezende Latalisa