
A Cidade das Corujas Eram duas horas da madrugada. O vento soprava triste. Lá fora, atrás dos muros do cemitério, uma coruja piava lugubremente. O frio e o escuro pareciam penetrar as paredes, escoar pelas frestas, passar através das venezianas das janelas e subir pelas pernas da cama. Oswaldo fora mandado de São Paulo até aquele lugarejo para ensinar aos moradores como se precaverem contra a febre. A epidemia que se alastrara pelo país, ainda não havia chegado ali, logo, medidas preventivas eram de suma importância. O moço era recém – formado em Medicina e recebera uma ótima proposta do governo para atuar no interior. Para quem não possuía ainda uma clientela fixa a proposta era muito bem – vinda. Ele aceitara sem considerar a fundo as possíveis dificuldades, agora, tiritava de medo numa cama de pensão naquela bucólica cidadezinha. O pio da coruja lembrava o choro agonizante de uma criança ou o lamento torturante de uma mulher desesperada, isso unido ao som do vento, criava imagens so...