A Escola Pública e a Proposta Curricular do Governo




A sociedade atual exige cada vez mais o acúmulo de conhecimentos. Para trabalhar, conviver com pessoas, entender e preservar o meio ambiente ou tornar-se um cidadão consciente dos seus direitos e deveres. Esta sociedade, pelo desenvolvimento tecnológico acelerado que sofreu, gera novas desigualdades ou exclusões, ligadas ao uso dessa tecnologia. Exclui-se o individuo por falta de acesso a bens materiais e também por falta de acesso a informação.
De acordo com o governo brasileiro, essa tendência tecnológica segue paralela “à democratização do acesso a níveis educacionais além do ensino obrigatório”, acredita-se que com a nova proposta de ensino mais pessoas terão acesso ao estudo, assim, o diploma de nível superior não será mais o diferencial. Os traços cognitivos e afetivos ganham um valor mais acentuado, a facilidade para solucionar problemas, desenvolver trabalhos em grupo, ter cooperativismo e interesse, podem contribuir para que o aluno tenha melhor desempenho em situações com maior grau de complexidade e também que se torne mais socializado.
A situação do ensino nas escolas públicas atualmente é calamitosa, o aluno chega ao Ensino Médio completamente analfabeto, por conta da tal progressão continuada ele passa de ano sem condições nenhuma. Não existem facilidades no sistema de ensino da rede pública, se por um lado as escolas ganharam salas equipadas com computadores, por outro lado não há monitores para orientar os estudantes em como operar as máquinas. Perde-se um longo tempo usando giz e lousa para ministrar provas, não há fundos nem copiadoras que possibilitem um trabalho mais rápido. Os alunos com necessidades especiais ficam perdidos, pois é impossível que o professor consiga um desempenho melhor tendo que atender quarenta estudantes em cada sala.
As dependências das escolas públicas sofrem a ação do tempo e vão se deteriorando gradativamente. É comum encontrar salas de aula nas quais lâmpadas não funcionam, lousas estão partidas pela metade, cacos de carteiras ainda são usados e raramente a mesa do professor está em bom estado. Na maioria dos prédios escolares não existe elevador e o aluno portador de deficiência tem de ser carregado até sua sala. Segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Base da educação), estabelecida em 1996, as escolas de Ensino Médio devem aplicar um projeto pedagógico que ultrapasse o uso da lousa, do giz e da palestra do professor, com o propósito de preparar melhor o aluno para os desafios do mercado de trabalho na sociedade competitiva em que vivemos. Estas exigências não foram identificadas em pesquisas. Em um mundo voltado para o conhecimento intensivo, a educação oferecida pela escola pública deve satisfazer essas necessidades, esse é o ponto justificativo para a implantação dessa nova proposta curricular.
O aluno da escola pública não pode ser padronizado. Existe um desnível muito grande na condição das pessoas. O jovem que mora em bairros mais próximos do centro, cujos pais têm uma melhor situação financeira que possibilite a ele pagar uma passagem de ônibus, comer um lanche, este vai estudar em uma escola mais bem preparada. Por outro lado, o jovem de periferia, que tem problemas familiares, cujos pais lutam para sobreviver com mínimas condições de sustento e que não pode pagar passagem ou ter gastos mínimos, esse vai ficar na escola mais violenta, com carência de professores, às vezes, até pela dificuldade no acesso. Como encarar a padronização do ensino? Imagina-se que com as medidas adotadas pelo governo, mudança de proposta curricular. O individuo terá oportunidade de aumentar seu conhecimento, melhorar sua convivência com o grupo, desenvolvendo suas competências e habilidades adquiridas ao longo da vida escolar de forma satisfatória. Em tese a idéia é muito boa. Nos últimos anos, acorreram para as escolas públicas pessoas que tiveram o padrão de vida modificado, que por vários motivos não conseguiram manter os filhos em escolas particulares. Também a massa de população pertencentes às camadas de baixa renda. Pessoas que antes não conheciam sequer o ambiente escolar e por causa da inclusão educacional se viram atiradas em salas de aulas mais como estatísticas do que como seres humanos. Teriam essas pessoas oportunidade real de aprendizagem? Conseguiriam sobreviver e produzir satisfatoriamente em uma sociedade rápida e extremamente seletiva? Estas são questões que deveriam permear tais mudanças. Ao enfatizar o fato de que os jovens têm o tempo de permanência na escola ampliado, por não ser permitido ao menor trabalhar antes da idade determinada por lei, o governo justifica essa febre de inclusão educativa batendo na tecla da necessidade de se aprender em uma nova sociedade informatizada. Entretanto, o que se constata é a falta de estrutura e preparo na Rede Pública de Ensino para que essa inclusão funcione de fato. Querer desenvolver a capacidade intelectual e funcional do individuo é louvável, mas a teoria é bem mais simples que a prática, na sala de aula a coisa muda de figura.
Muito tem se falado do papel do professor na escola pública, mas o que não é considerado é o percurso que os profissionais desta área fizeram. Muitos vieram da ditadura, um tempo no qual não havia nenhuma liberdade. Naquela época o professor não lidava com as dificuldades de disciplina que existem hoje. A educação era rígida e os professores eram respeitados pelos alunos tanto no âmbito profissional quanto no pessoal, atualmente já não se percebe mais essa característica nos estudantes. Havia uma sede de conhecimento, uma curiosidade para desvendar o desconhecido, um risco no adquirir cultura e consciência e o professor era o portal para isso.
Ser professor nos dias de hoje é redescobrir formas, arranjar meios, adaptar estruturas, cativar interesses, trabalhar personalidades, transmitir valores (não raro familiares), reconstruir auto-estima de adolescentes. Se ganha a sensação de dever cumprido quando a confiança e a amizade de um aluno são conquistadas, mas compensações financeiras estão longe de serem justas. Ainda assim, com todas as dificuldades que se apresentam nesta carreira, querem incentivar graduandos aos cursos de licenciatura. O governo quer universalizar a escola, reduzir as distâncias, criar educação de qualidade, sem melhorar uma estrutura deteriorada e sem dar atenção ao catalisador desses esforços, aquele que desenvolve habilidades e competências no outro com o que possui em mãos, o professor.
A proposta curricular do governo é uma boa idéia desde que melhor trabalhada, não se pode igualar o que é diferente. Alunos diferem por várias questões uns dos outros, professores diferem também uns dos outros e a própria sociedade é construída sobre bases desiguais.
Dalva.

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